O Griô surge como uma metáfora da memória e ancestralidade
do povo brasileiro, memória viva de povos que não se calaram e mantiveram vivas
suas tradições e identidades em comunidades de re-existência.
Griô é todo cidadão que se reconheça e seja reconhecido pela
sua própria comunidade como herdeiro dos saberes e fazeres da tradição oral e
que, através do poder da palavra, da oralidade, da corporeidade e da vivência,
dialoga, aprende, ensina e torna-se a memória viva e afetiva da tradição oral,
transmitindo saberes e fazeres de geração em geração, garantindo a
ancestralidade e identidade do seu povo. A tradição oral tem sua própria
pedagogia, política e economia de criação, produção cultural e transmissão de
geração em geração.
Griô não é um segmento da cultura popular, mas uma definição
ampla e universal, que abrange todos os segmentos do universo da tradição oral
– que por sua vez é bem mais amplo e complexo do que cabe no termo “cultura
popular”, tudo aquilo que não é erudito. Mas as tradições tem suas erudições. O
termo “mestre”, por exemplo, abrange poucos segmentos das tradições. Mães de
santo, rezadeiras, curadores, cantadores, cordelistas e parteiras, apenas para
dar exemplo de segmentos, não se identificam
em suas comunidades de origem com o termo “mestre” ou “mestra”. Além
disso o termo mestre ou mestra é utilizado para segmentos e títulos da
academia. O Griô, um sábio da tradição oral, é o que é pelo seu reconhecimento
na comunidade.
O termo Griô é universal, porque ele em si um arcabouço
imenso do universo da tradição oral africana. É uma corruptela da palavra
“creole”, ou seja, criolo, a língua geral dos negros na diáspora africana. Foi
uma recriação do termo gritadores, reinventado pelos portugueses quando viam os
griôs gritando em praça pública. Foi utilizado pelos estudantes
afrodescendentes franceses para sintetizar milhares de definições que abarca.
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